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12 de Abril de 2018

Situações de crise ajudam a proliferação de Fake News

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**Por João José Forni

Desastres, atentados ou tiroteios: situações de crise são um terreno fértil para os autores de "fake news" ou notícias falsas, que se aproveitam da emoção em torno desses acontecimentos para ecoar ao máximo suas manobras. Este é o mote do artigo publicado no site “Chalenges”, abordando o tema da divulgação e rápida disseminação das chamadas “notícias falsas”.

“O exemplo mais recente, o tiroteio que deixou três feridos no dia 1º de abril, na sede do YouTube (subsidiária da Google), perto de San Francisco,  ajudou a espalhar informações falsas (como o relato de "dezenas de mortes" ou ainda a tentativa de envolver personalidades como Hillary Clinton), e a mídia dos EUA informou que a plataforma de vídeo de um funcionário, Vadim Lavrusik, havia sido invadida por um hacker.

Recentemente, no tiroteio na Florida, na Parkland High School, e os protestos a favor do controle de armas também foram alvo de múltiplas intervenções de grupos ativistas, muitas vezes voltadas para fins políticos.

"São acontecimentos traumáticos e estão ainda mais propícios à disseminação de falsas informações e teorias conspiratórias que geram um efeito de estupor, de espanto. Quando alguém se depara com uma notícia marcante ou chocante, procura-se explicações, e por falta de informação apega-se a teorias, podendo ser inclusive destrambelhadas”, explica à AFP Rudy Reichstadt, diretor do Conspiracy Watch Observatory com sede em Paris.

Um estudo do MIT-Massachusetts Institute of Technology, prestigiado instituto de pesquisa norte-americano, publicou há um mês na revista Science, que as "falsas notícias" tendem a se espalhar muito mais rapidamente pelas redes do que as verdadeiras informações, em quaisquer que sejam os assuntos. O tema foi abordado também no site www.comunicacaoecrise.com, no artigo “Notícias falsas se espalham mais rápido e com mais amplitude. E os humanos são culpados”.

"Chamadas para cliques"

De acordo com as conclusões do estudo, enquanto no Twitter a informação real raramente é compartilhada com mais de mil pessoas, o 1% das "notícias falsas" mais populares afeta regularmente entre 1.000 e 100.000 pessoas. Além disso, notícias reais levam seis vezes mais tempo para atingir 1.500 pessoas do que uma falsa.

Os autores deste estudo, que tiveram a ideia de trabalhar nesta questão depois de ouvir muitos rumores circulando durante o ataque da Maratona de Boston (cidade próxima de onde o MIT está localizado), em 2013, enfatizam que são as notícias falsas sobre política que têm o efeito mais viral, diante das "lenda urbana", a economia. A categoria "terrorismo e guerra" vem em quarto lugar, e os desastres naturais aparecem no final da lista.

Segundo o artigo publicado, os perfis e motivações daqueles que fabricam e propagam as "fake" variam. Segundo Reichstadt, "agora temos empreendedores em teoria conspiracionista, que reescrevem as notícias instantânea e permanentemente à luz da teoria do complô, numa narrativa alternativa", e se fecham numa "perpétua fuga conspiracionista ", como Alex Jones, criador do site dos EUA Infowars (teórico da conspiração de extrema direita), ou do jornalista Thierry Meyssan” (que investiga grupos de extrema-direita, sobretudo sobre milícias). 

Após a tragédia em Parkland várias fotomontagens destinadas a desacreditar defensores do controle de armas de fogo, fizeram especialmente acreditar os internautas que uma das sobreviventes, Emma Gonzalez, que se tornou uma figura deste movimento, rasgou uma cópia da constituição americana ou atacou o veículo de um defensor do uso de armas de fogo (o material utilizado era, na verdade, uma velha foto de Britney Spears ...).

Somam-se a isso os “clickbaits”*, aqueles sites que prosperam no sensacionalismo para gerar receita na publicidade, sem motivação política, ou a "conspiração de baixo", obra dos "conspiradores de domingo", observado especialmente após os ataques de 2015 na França, segundo o diretor do Conspiracy Watch.

Além das más intenções, a confusão e a pressa em torno das situações de crise também podem contribuir para o surgimento de notícias falsas, por falta de verificação pela mídia tradicional ou como resultado de erros cometidos por fontes oficiais.

O absurdo de tudo isso, com a facilidade de “fake news” proliferarem nas crises, é o fato de poderem acontecer fatos extremamente graves, em momentos de comoção nacional, envolvendo aspectos emocionais. Como no terremoto ocorrido na Cidade do México em setembro passado. A mídia do mundo inteiro estava comovida com o resgate da pequena Sofia, baseada em declarações de socorristas e autoridades, até que, após especulações que chegaram até o exterior, o governo revelou que ela nunca havia existido.

* Clickbait (também conhecido por sua tradução para o português isca de cliques ou caça-clique) é um termo pejorativo que se refere a conteúdo da internet que é destinado à geração de receita de publicidade on-line, normalmente às custas da qualidade e da precisão da informação, por meio de manchetes e/ou imagens em miniatura chamativas para atrair cliques e incentivar o compartilhamento do material pelas redes sociais.

** João José Forni é Jornalista, Consultor de Comunicação, autor do livro "Gestão de Crises e Comunicação - O que Gestores e Profissionais de Comunicação Precisam Saber para Enfrentar Crises Corporativas". 

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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