01 de Junho de 2025
Pesquisa revela altos índices de estresse e adoecimento mental na indústria de eventos
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Estudo inédito realizado em abril com profissionais da indústria de eventos aponta uma realidade alarmante: 80,5% afirmam que o trabalho já impactou negativamente sua saúde física e 86,6% relatam episódios de irritabilidade relacionados à rotina profissional. A pesquisa “Saúde mental: Cuidando de quem faz acontecer” foi apresentada em primeira mão durante o Fórum Eventos 2025, promovido pelo Grupo Conecta Eventos, em São Paulo (SP).
Idealizada por Wilma Bolsoni e Isabel Ramos, especialistas em saúde mental, em parceria com o Grupo Conecta Eventos, a pesquisa ouviu 82 profissionais com atuação relevante na área, como gestores, coordenadores e planejadores de eventos. Os dados mostram que a ansiedade afeta 81,7% dos entrevistados, seguida pela insônia (58,5%), burnout (45%), sensação de desrespeito ou humilhação (43,9%) e depressão (19,5%). Apesar desse cenário, 82,9% dizem não sentir que há suporte suficiente no setor para cuidar da saúde mental, revelando uma preocupante lacuna nas estratégias de cuidado organizacional.
Quando questionados sobre os principais fatores de estresse enfrentados no setor, os participantes apontaram, com maior frequência, as mudanças inesperadas (73,2%), os prazos apertados (69,5%) e as falhas de comunicação (62,2%). Também foram destacados como causas recorrentes de desgaste a demanda excessiva de trabalho (53,7%), orçamentos mal dimensionados (51,2%), horários irregulares (42,7%), problemas com fornecedores (41,5%), instabilidade no ambiente profissional (24,4%), estressores de ordem pessoal (14,6%) e casos de assédio moral ou sexual (9,8%).
Outro dado relevante do estudo é que 76,8% dos respondentes se identificam com o gênero feminino, o que evidencia a predominância de mulheres em uma indústria altamente estressante e, portanto, os impactos desproporcionais sobre elas. Entre as estratégias pessoais mais adotadas para lidar com a pressão, estão hobbies e tempo com amigos e família (69,5%), prática de exercícios físicos (68,3%) e terapia ou apoio psicológico (56,1%). Outras respostas incluem tratamento médico (28%), meditação ou mindfulness (22%) e, em menor número, o uso de substâncias (11%).
Segundo Wilma Bolsoni, o problema vai além do setor. “Vivemos hiperconectados, mas nunca estivemos tão sós. O Brasil lidera os rankings globais de ansiedade e depressão”, afirmou. Para ela, a solução passa por mudanças profundas no modo de vida e nas estruturas de trabalho. “Os próximos desafios não serão apenas técnicos ou políticos. Serão existenciais”, enfatiza.
Sobre o papel das empresas na promoção do bem-estar, os profissionais relataram que poucas iniciativas são oferecidas. As mais citadas foram flexibilidade de horário, apoio psicológico e treinamentos de gestão do estresse. No entanto, 82,9% afirmam que essas ações são inexistentes ou insuficientes.
A pesquisa também revelou que muitos temas ainda são considerados tabus no setor, como falar abertamente sobre depressão e ansiedade, admitir esgotamento ou demonstrar cansaço, relatar casos de assédio e questionar a romantização da produtividade extrema.
“A situação é crítica na indústria de eventos porque os profissionais são maestros de grandes orquestras, e não tem como não sofrerem o impacto direto disso”, alertou. Para ela, é necessário investigar as causas estruturais do adoecimento e buscar caminhos de cura. “Vivemos impulsionados pela competitividade, estruturados em valores vazios e nos sentimos ameaçados por todos os lados.”
O estudo propõe caminhos para a regeneração da saúde mental. Entre as soluções sugeridas estão a valorização do tempo de pausa, práticas de autocuidado, apoio psicológico efetivo, além da formação de lideranças conscientes e humanizadas. “Antes, era tabu falar de assédio, depressão, ansiedade ou demonstrar cansaço. Quando não posso falar, vou internalizando os problemas. O efeito é o isolamento. Quando o corpo fala, é porque o psicológico já foi atingido”, reforça Isabel.
A pesquisa é parte do esforço do Fórum Saúde Mental 2025 para trazer luz a um problema que se tornou estrutural: o adoecimento psíquico como reflexo de um modelo de trabalho que cobra produtividade ininterrupta e desconsidera os limites humanos. “Precisamos cuidar de quem cuida, valorizar vínculos reais e recuperar a conexão com o propósito e com a natureza humana”, finaliza Isabel.
“O painel apresentado pela Wilma e a Izabel no Fórum Eventos 2025 e a pesquisa integram o propósito que perpassou todo evento: as pessoas no centro do processo, cuidar das pessoas acima de tudo, que também pode ser observado em outros painéis, como: Mulheres no Mercado de Trabalho: O Respeito Necessário em seus Ciclos de Vida e É tempo de gerar impacto e fazer negócios com mais gentileza e generosidade”, lembra Sergio Junqueira Arantes, CEO do Grupo Conecta Eventos e diretor do Fórum Eventos.