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12 de Abril de 2018

O menino pobre que virou astronauta: Marcos Pontes enumera em Natal lições de perseverança para quem busca seus sonhos

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Por Juliska Azevedo

O astronauta brasileiro Marcos Pontes, que cumpriu missão à estação espacial em 2006, proferiu a palestra de abertura da Campus Party Natal na noite desta quarta (11). Em uma hora e meia de conversa descontraída, trouxe curiosidades sobre como é a preparação do seleto grupo de pessoas que já foi ao espaço e falou sobre escolhas, medo, perseverança e sonhos. Filho de faxineiro aprovado em primeiro lugar na Academia da Força Aérea, Marcos Pontes se declara um “obcecado por Educação”. “Acredito que a educação é capaz de resolver todos os problemas de um país”. O astronauta tem um pé no RN: sua mulher, com quem tem um casal de filhos, é natural de Angicos, região Central do Estado. “Ninguém faz nada sozinho. Se quiser fazer as coisas grandes, terá que ter uma boa equipe. E a família é a equipe principal”, afirma.

Na sequência abaixo, alguns trechos do pensamento do primeiro homem do espaço brasileiro.

Infância em Bauru, SP

“A vida era apertada. As pessoas olhavam para mim e diziam, esse garoto não vai dar em nada. As pessoas são assim, julgam pela aparência. Meu sonho era voar, mas eu não tinha dinheiro para pagar horas de voo. Até hoje é muito caro. Aos 14 anos tive meu primeiro emprego com carteira assinada, como eletricista aprendiz na companhia ferroviária. Estudava entre um serviço e outro, em livros sujos de graxa, para entrar na academia da aeronáutica”, contou.

Academia da Força Aérea

“Eu não tinha tempo nem dinheiro para fazer o cursinho para o vestibular. Mas tinha muita vontade de passar. Quando você tem vontade você procura soluções. E o tempo que eu tinha de folga no trabalho, estudava na locomotiva. Uma vez um dos caras que trabalhava comigo disse ‘está estudando pra quê?’. Respondi: Vou entrar na academia da força aérea. Ele disse que era impossível. Que eu nunca ia conseguir. Que era coisa para filho de rico”

Lição materna

“Cheguei em casa e estava tomando uma canja, cabisbaixo, e minha mãe perguntou porque estava assim. Contei o que tinha ouvido. Ela, italiana forte, me olhou com seus olhos azuis e disse: ‘Você pode ser o que quiser desde que estude, trabalhe, persista e sempre faça sempre mais do que esperam de você”.

Disciplina para realizar

“O que você quer que aconteça você tem que falar. As palavras têm um poder enorme dentro de você. Não coloque o dinheiro como primeiro critério. Coloque o que você gosta de fazer. Passei em primeiro lugar do país na Academia da Força Aérea. Na academia você começa a aprender que disciplina é importante. Que você precisa de outras pessoas para realizar. Que a vida é um combate e você consegue vencer se tiver as armas corretas, entre elas a ética”.

 

Quer ter oportunidades, construa

Se quiser ter sucesso na vida tem que se movimentar o tempo todo. Tem que causar mudança, tem que abraçar a mudança do jeito que você quer. Então, já estabilizado como piloto, fui fazer um curso de engenharia. Se você quer ter oportunidade na sua vida, construa. Como? Simples. Estuda mais, se qualifica mais, e vai poder fazer outras coisas. É importante na sua vida ficar sempre varrendo as oportunidades. A vida é tomada de decisão. A cada decisão você abre algumas portas e fecha outras. O cuidado que se deve ter é de nunca fechar as portas para seus sonhos”.

Decisão de correr riscos

“Quando a Nasa abriu a seleção para um astronauta brasileiro, eu estava fazendo doutorado na Califórnia”, conta Marcos, afirmando que soube da seleção por um irmão que viu a reportagem na televisão no Brasil, e ligou para avisar. “Após passar na seleção, fui avisado de três coisas importantes para tomar a minha decisão: a função de astronauta é civil e pode sacrificar sua atividade militar. Pode sacrificar o convívio com a família. E pode sacrificar a própria vida. A gente quer ter todas as informações para tomar a decisão. Mas a gente não vai ter. Então na hora de tomar uma decisão pense: não tome decisão que seja contrária aos seus valores”.

Os desafios da jornada e a fé

Os maiores desafios surgirão quando você estiver chegando perto do seu objetivo. A gente não consegue controlar as coisas que acontecem na nossa vida totalmente. Meu filho foi diagnosticado com câncer quando eu estava me preparando para a missão espacial. Se você não acredita em Deus, vai precisar de um ótimo substituto. Se agarre no que você puder e continue a fazer o que precisa”.

Despedida da família

Marcos Pontes falou sobre o treinamento técnico, psicológico e físico que recebeu para ir ao espaço. Segundo ele, o momento que mais marcou antes da missão espacial, foi o período de 30 minutos a que teve direito, no dia anterior ao voo, para se despedir da família. “Coloque as pessoas em primeiro lugar. Elas são a coisa mais importante da vida da gente. Medo é uma coisa natural. Eu sou coach, trabalho com preparação das pessoas. Às vezes eu vejo pessoas com capacidades monstruosas, mas por medo elas vão deixando de fazer as coisas porque ficam com medo de falhar”.

Sensação de estar no espaço

“Na vida da gente, a gente sofre tanto para realizar um projeto, e quando a gente chega lá a gente se lembra de tudo o que a gente passou. Lá em cima você se sente nada, percebe que não é absolutamente nada diante da grandeza da Terra. Essa sensação é importante para refletir sobre quanto tempo a gente passa aqui preocupado estar certo”.

Ao final da palestra, Marcos Pontes comentou sobre as consequências para a saúde que sofre, ainda hoje, pela viagem espacial. “Nada é de graça. Se você tem um sonho tem que colocar seu esforço. Se quer realizar alguma coisa, pague o preço. As pessoas que tem sucesso são as que não perdem tempo. Trabalham e realizam”, assinalou.

(Crédito da foto: Papo de Mídias https://bit.ly/2GPJKQm)

 

 

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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