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12 de Janeiro de 2020

Irã reconhece: “erro humano” derrubou avião da Ukraine Airlines

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*Por João José Forni

Por trás das grandes crises, quase sempre há um “erro humano”. Assim a teoria de gestão de crises classifica os graves problemas que afetam as organizações, quando provêm de decisões humanas equivocadas. Após três dias de controvérsias sobre as causas do acidente, que derrubou o avião da Ukraine Airlines, com 176 pessoas a bordo, em Teerã, na 4ª feira, o comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária do Irã reconheceu que o avião foi atingido por um míssil de defesa, culpando o “erro humano” e o "aventureirismo americano" pelo acidente. Ele apenas confirmou o que desde o início autoridades americanas e canadenses já tinham insinuado, após informações da inteligência dos dois países.

"A República Islâmica do Irã lamenta profundamente esse erro desastroso", escreveu o presidente iraniano, Hasan Rowhani, no Twitter. "Meus pensamentos e orações vão para todas as famílias de luto".

A queda do Boeing 737, voo PS752, quando decolava, no momento em que o Irã atacava bases americanas no Iraque, agravou um cenário da aviação, que não consegue se livrar da crise, principalmente nos últimos dois anos. O voo Teerã-Kiev tinha acabado de decolar do aeroporto iraniano. Após atingir cerca de 2.400 metros, aparentemente o avião pega fogo, tenta uma inflexão para a esquerda, numa tentativa de voltar, mas logo em seguida explode e cai em pedaços. Sabe-se agora que o piloto se comunicou com a Torre do aeroporto, pedindo para voltar. As imagens do acidente, vistas por várias câmeras, mostravam luzes que se aproximavam da aeronave, o que sugeria um objeto não identificado, como agora se confirma. Era um míssil lançado pela defesa iraniana.

As 176 pessoas que morreram no acidente, eram de várias nacionalidades: 82 iranianos, 57 canadenses, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos

A terrível coincidência

A decolagem do avião ocorreu exatamente no momento em que o Irã lançava mísseis em direção ao Iraque, para atacar as bases americanas. No mínimo, uma ação imprudente do controle de voo iraniano, bem como das companhias aéreas, pois não são obrigadas a decolar.

O comandante da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã disse na entrevista que pediu que todos os voos comerciais no Irã fossem suspensos até que as tensões com os EUA esfriassem. Mas os membros das Forças Armadas autorizadas a fazer tal pedido do governo e da autoridade da aviação optaram por não fazê-lo. Outra dúvida, por que outras aeronaves decolaram naquela noite e não foram atacadas? Mesmo assim, as empresas aéreas, por segurança, deveriam ter tomado a decisão de não autorizar decolagens ou pousos naquele horário. Isso implicaria custos, naturalmente. Teria a Ukraine Airlines incorrido também num grave erro estratégico, ao autorizar a partida no momento do ataque?

A queda do Boeing 737 800 no Irã ocorre num momento extremamente delicado para a fabricante e a própria aviação. O grave acidente esteve por três dias envolto num grande mistério, com a causa do acidente se dividindo entre duas hipóteses: falha técnica do avião, logo após a decolagem, sem esquecer que a Ukraine Airlines assegurou ser um aparelho novo, revisado na semana passada. Nem se cogitou também em erros da tripulação, apontada pela empresa como bastante experiente.

A outra hipótese, mais plausível, o avião ter sido atingido erradamente por um míssil de defesa do Irã, no momento em que o país atacava bases americanas no Iraque. Alguns órgãos da imprensa americana e canadense divulgaram amplamente a versão do míssil, até mesmo com imagens. Segundo o jornal americano The New York Times, que deu o “furo” do míssil iraniano, o vídeo divulgado tinha sido confirmado por especialistas. Versão essa corroborada por algumas autoridades e que somente neste sábado o Irã confirmou.

Não bastasse a interminável crise com o 737 MAX, de forma confusa e pouco transparente conduzida pela Boeing, o acidente no Irã coloca em evidência a fragilidade com que um avião lotado de passageiros explode sem que o país onde ocorreu o acidente, o fabricante e a empresa aérea tivessem uma explicação pelo menos coerente sobre o que ocorreu. Sabemos que a transparência nunca é uma virtude cultivada pelos envolvidos nas grandes tragédias. E para agravar as dúvidas, o comandante iraniano, na entrevista, reconheceu que desde 4a. feira (8) sabia que o acidente tinha sido provocado por um míssil e avisou o seu governo. Foram três dias de omissão, quando todo o mundo já suspeitava de um ataque involuntário.

A princípio, o Irã ameaçou não liberar as famosas “caixas pretas”, que armazenam os últimos dados e gravações dos voos dos aviões. Com isso, ele estava desrespeitando leis internacionais que preveem a participação do país onde ocorreu o acidente, do fabricante e a da empresa responsável pelo avião, na apuração completa dos acidentes. Como ocorreu na investigação bastante demorada do trágico acidente do voo Air France 447, em maio de 2009, no Brasil, no trajeto Rio-Paris. A apuração envolveu também a França e o fabricante do avião. Nesse acidente, morreram 228 pessoas, sendo que as equipes levaram dois anos para localizar as caixas-pretas e apenas metade dos corpos dos passageiros pôde ser resgatada do mar, onde o avião caiu.

Lentidão e transparência

No caso do acidente da Air France, dez anos depois, o processo de investigação não terminou. A Justiça francesa rejeita acusação contra a Air France e culpa pilotos pelo acidente no voo Rio-Paris. Essa disputa jurídica só aumenta a dor das famílias que perderam os entes queridos. Assim também com o avião da Malaysia Airlines, atingido por um míssil russo, quando sobrevoava a Ucrânia (na época em disputa bélica com a Rússia), em viagem de Amsterdam para Kuala Lumpur, em 2014. Só agora, cinco anos depois, a investigação aponta rebeldes russos como culpados pelo lançamento do míssil que abateu o avião e matou 298 pessoas. Enquanto isso, as famílias, maioria de origem holandesa, continuam na briga jurídica.

Há uma terrível coincidência entre esse acidente ocorrido num conflito de guerra entre Ucrânia e Rússia e o atual. O FBI havia recomendado as empresas aéreas evitarem utilizar o espaço aéreo da Ucrânia, naquela época, exatamente por causa dos conflitos que utilizavam mísseis para atacar os adversários. A Malaysia Airlines optou por manter a perigosa rota. Quando o avião da Malaysia passava sobre a Ucrânia – e foi atingido por um míssil – vários outros aviões estavam aumentando o tempo da viagem (e o custo) para fugir do espaço aéreo ucraniano. 

Lentidão e pouca transparência parece ser a tônica dos acidentes aéreos, principalmente aqueles que incluem agravantes, como atentados, sabotagem ou desaparecimento. As exigências para o voo e as cobranças cada vez mais draconianas das empresas aéreas, de refeições, malas, assentos, limitação de peso e número de bagagens não parecem ter acompanhado o investimento no ativo mais precioso das companhias aéreas e dos fabricantes de aviões: a segurança e a transparência na relação de negócio entre empresa, clientes e órgãos reguladores. Definitivamente, a aviação mundial não está voando num céu de brigadeiro. 
 

*João José Forni é jornalista, Consultor de Comunicação, autor do livro "Gestão de Crises e Comunicação - O que Gestores e Profissionais de Comunicação Precisam Saber para Enfrentar Crises Corporativas".

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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