04 de Julho de 2025

Especialista em tecnologia debate a ética na programação e desenvolvimento de sistemas

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Em um mundo cada vez mais digital, em que algoritmos decidem desde recomendações de filmes até aprovações de crédito, o papel da ética no desenvolvimento de sistemas tornou-se central. O professor José Padilha, docente do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Universidade Potiguar (UnP), integrante do maior e mais inovador ecossistema de qualidade do Brasil: o Ecossistema Ânima, alerta para os riscos de ignorar a responsabilidade social nos projetos tecnológicos e destaca o compromisso em formar profissionais conscientes do impacto de suas criações.

“A fronteira entre a computação ética e a não ética é tênue. Muitas vezes, invisível para quem não está atento. Um mesmo conhecimento técnico pode ser usado tanto para salvar vidas quanto para invadir a privacidade de milhões. A diferença está na intenção e, principalmente, na ética de quem programa”, afirma.

Segundo ele, a ética deve ser vista como um eixo estruturante da formação em tecnologia, não como um diferencial ou um conteúdo periférico. “Um sistema pode ser desenhado para facilitar o acesso à educação, mas também pode ser projetado para explorar usuários, manipular dados sensíveis ou até executar fraudes sofisticadas”, completa.

Com o avanço da capacidade computacional, também surgiram ferramentas perigosas, como malwares, algoritmos manipuladores e códigos voltados a fraudes, que reforçam a necessidade de consciência ética desde o início da carreira. “A responsabilidade social do desenvolvedor está diretamente ligada à consciência de que o que ele constrói impacta diretamente a vida das pessoas”, destaca. Ele lembra ainda que o código está presente em todos os aspectos da vida moderna, mas o programador muitas vezes permanece invisível: “É justamente por isso que precisa ser ainda mais consciente de seu papel social”, reforça.

Formação profissional

A mensagem é clara: o futuro da tecnologia depende da consciência de quem a constrói — e formar profissionais com essa visão é um desafio que começa na sala de aula. Na UnP, esse compromisso se reflete na estrutura curricular do curso. De acordo com Padilha, a responsabilidade social está inserida de maneira transversal em todas as unidades curriculares, indo além de disciplinas específicas.

“A responsabilidade social não é tratada como um apêndice ou um tema isolado. Ela está integrada ao DNA da formação. Nossa matriz foi cuidadosamente pensada para que o contexto ético não esteja restrito apenas às disciplinas específicas, como aquelas do Core Curriculum ou da unidade Vida & Carreira. Pelo contrário, a ética é trabalhada de forma transversal em todas as unidades curriculares, conectando teoria, prática e consciência social”, frisa.

O professor destaca ainda a importância do corpo docente formado por profissionais atuantes no mercado, que trazem dilemas éticos reais para o ambiente acadêmico. “É comum vermos discussões sobre privacidade de dados, impactos sociais de sistemas mal projetados e responsabilidade sobre o que se coloca em produção”, relata.

Ambientes digitais inclusivos

Essa consciência ética também está diretamente relacionada à criação de ambientes digitais mais inclusivos e seguros para todos. Padilha explica que boas práticas de programação, combinadas com uma formação teórica consistente, são a base para esse processo. “Desde os primeiros projetos, os estudantes são estimulados a considerar aspectos como validação de entrada, proteção de dados, design responsivo e usabilidade, elementos essenciais para garantir que o sistema funcione bem para todos, sem exceções.”

Além disso, ele ressalta o papel inclusivo da tecnologia. “Pessoas com autismo ou TDAH, por exemplo, frequentemente encontram na tecnologia um ambiente de acolhimento e valorização de suas habilidades. Isso reforça ainda mais o compromisso do desenvolvedor com a criação de soluções que respeitem e considerem as diferentes realidades dos usuários”, pontua.

Atitudes práticas

Na formação ou na atividade profissional, é preciso seguir frameworks reconhecidos, como os códigos de ética da Associação para Maquinário de Computação (ACM) e do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). Esses documentos estabelecem diretrizes fundamentais para a atuação profissional, como a priorização do bem público, a transparência nas ações, a integridade no desenvolvimento de projetos e a responsabilidade no uso da tecnologia.

Na prática, isso inclui o uso de padrões de projeto, testes automatizados, revisões de código, documentação clara, respeito à privacidade de dados e usabilidade centrada no usuário. Também envolve o uso ético de bibliotecas e códigos de terceiros, com atenção às licenças e à propriedade intelectual. Para o professor, tudo isso contribui para um objetivo maior. “O desenvolvedor ético contribui ativamente para a construção de sistemas mais seguros, acessíveis, sustentáveis e socialmente justos, influenciando diretamente na forma como a tecnologia impacta a sociedade”, conclui

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN. É apresentadora do programa Manhã CBN, na Rádio CBN Natal (91,1FM), gerente de comunicação da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN) e sócia-diretora da agência Ska Comunicação, atuando como consultora para instituições e lideranças.

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