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15 de Março de 2023

Transição energética: pesquisadores reposicionam UFRN para transformá-la em hub do setor energético

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Por Paiva Rebouças – Agecom/UFRN

Você sabe o que é a transição energética? O termo nunca esteve tão em alta e o motivo é óbvio: o efeito estufa e o aquecimento global. Se, por um lado, alguns insistem em discordar desse fenômeno que vem provocando mudanças graves no planeta, por outro, diversos setores estão apostando alto e transformando o problema em oportunidade. Por isso estamos vendo tanta propaganda de veículos elétricos e, aqui no Rio Grande do Norte, por exemplo, a expansão dos parques eólicos e da energia fotovoltaica (energia solar), sobretudo a de uso doméstico. De modo geral, essa transição significa a substituição de matrizes energéticas poluentes, como os combustíveis fósseis, para uma não poluente, com baixa ou nenhuma emissão de carbono, estruturada em fontes renováveis.

Uma questão importante é que a transição está associada a uma série de condicionantes, entre os quais a inovação tecnológica, a digitalização e outros meios que garantam o uso eficiente dos recursos energéticos e as fontes de baixo carbono. E é exatamente para isso que um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está olhando. Com know-how na área e diversas pesquisas e experimentos bem-sucedidos, cientistas de diversos setores do Centro de Tecnologia (CT/UFRN) vão se juntar em um projeto único para mostrar ao mundo que a UFRN é a parceira ideal para grandes iniciativas em desenvolvimento e futuros empreendimentos do setor energético.

De acordo com o pesquisador Ricardo Lúcio de Araújo Ribeiro, professor titular do Departamento de Engenharia Elétrica (ELE/CT/UFRN), o Grupo de Transição Energética (GTE/UFRN) tem expertise suficiente para enfrentar os problemas ou desafios que são demandados pela transição energética. São pesquisadores e pesquisadoras com enorme experiência na produção de petróleo que vêm mudando o foco de suas investigações científicas para biocombustíveis e sistemas sustentáveis, entre eles o hidrogênio. Apesar de trabalharem no mesmo centro de pesquisa, não necessariamente suas descobertas e projetos estão associados. Por esse motivo, está sendo construído um novo prédio para tentar juntar todo mundo num único lugar e propósito, ou, ao menos, tornar a colaboração mais efetiva, com foco em conduzir o estado a se tornar capaz de entregar tudo que essa nova indústria precisa.


Acontece que, apesar de os parques eólicos e os campos de energia fotovoltaica estarem mudando a paisagem do Rio Grande do Norte, basicamente tudo que faz com que essas mega estruturas fiquem de pé e funcionem vem de fora – de fora do país – e, quando muito, do Sul e Sudeste. Esses empreendimentos geram uma boa parcela de empregos, mas só até sua instalação. Por isso é necessário entrar na briga para que o próprio RN tenha condições de produzir os componentes usados nesses empreendimentos, desde os mais simples, como parafusos, até os mais complexos, como os conversores de potência e sistemas de controle. A ideia é mostrar ao mundo as diversas soluções desenvolvidas nas pesquisas e laboratórios da UFRN para atrair empresas e indústrias interessadas em desenvolvê-las, atiçando uma nova cadeia produtiva, capaz de manter os empregos e divisas para o estado.

O planejamento inicial, de acordo com Ricardo Lúcio, é dar notoriedade ao que a UFRN já faz nos diversos setores envolvidos nessa transição, como é o caso da produção de hidrogênio para a captura de carbono e integração de sistemas renováveis à rede elétrica. Com isso, pretende-se chamar a atenção das empresas do setor e dos órgãos de fomento para que, em acordo de cooperação, consigam-se desenvolver produtos e soluções aqui mesmo, no RN, agregando não só valor aos produtos locais, mas também posicionando o estado como um hub da transição energética.

Logomarca do GTE – Projeto“Nós registramos o GTE/UFRN no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovação (MCTI), para dar notoriedade que a gente tem expertise suficiente para tratar praticamente de todos os problemas que envolvem a transição energética. Dentro da Universidade, os grupos que estão totalmente ligados a isso, seja a parte de informática, de química, de materiais, de engenharia elétrica, vão trabalhar de forma coesa, com o objetivo de gerar soluções para enfrentar os desafios dessa transição energética”, completa Ricardo.

Um mercado de bilhões

Não, não é exagero. O mercado ao redor dessa transição energética é maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) de muitos países, girando em torno dos bilhões de dólares. O melhor de tudo é que, apesar de estar em evidência, esse novo modelo está apenas começando e, o que também é muito importante, todas as empresas da área de petróleo, se já não entraram, estão mudando seus parques para investir nesse campo. No Oriente Médio, por exemplo, todas as petrolíferas estão sendo transformadas em empresas de energia para produção de hidrogênio visando gerar soluções sustentáveis. Na Escandinávia, a expectativa é de que, já em 2030, os veículos não usem mais combustíveis fósseis. Em outras partes da Europa, essa mudança deve se consolidar até 2035. O Brasil vai correndo atrás, apesar de estar com um atraso de pelo menos sete anos.


Mas o Brasil já é um exemplo para o planeta na geração de energia limpa e renovável. Contudo, Ricardo Lúcio alerta que a nossa matriz está muito dependente da hidreletricidade, setor que depende do nível de reservatórios e da regularidade das chuvas. Por isso a necessidade de se diversificar e expandir para além do vento e do sol. “Nós somos um país que tem todas as condições naturais e físicas para produção de hidrogênio e para se tornar o hub desse combustível do mundo”, destaca.

E onde entra o Rio Grande do Norte nessa história? De acordo com Ricardo, o estado potiguar tem o melhor índice de vento do planeta. Não por acaso, dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (Sedec-RN) mostram que existem, atualmente, 224 empreendimentos eólicos em operação, com capacidade para produzir até 6,8 GW. Outros 63 parques estão em construção e mais 85 já foram contratados. Além disso, nós temos muito sol e todos os requisitos para a produção de hidrogênio. “A UFRN, como central e demandadora de conhecimento, tem tudo para se tornar referência na área. E a gente começa a partir dessa condição de gerar soluções viáveis que possam ser enquadradas em produtos comerciais e transformar isso em valor agregado, atraindo a indústria que paga melhores salários para a região”, completa. 

Um fator que anima ainda mais essa “nova” perspectiva é que existe uma tendência de o governo atual transformar a Petrobras em empresa de energia nos moldes do que está sendo feito lá fora. Mais que isso, de acordo com Ricardo Lúcio, existe um compromisso com o atual presidente da Petrobras, Jean-Paul Prates, de trazer para o RN uma direção administrativa que ficaria responsável pela parte de energia renovável e transição energética. “Além disso, existe uma disposição da Petrobras de estreitar laços com a UFRN no sentido que a gente consiga contribuir, do ponto de vista científico, para gerar soluções viáveis na produção desses componentes e, de fato, fazer parte da cadeia produtiva, não ficar apenas gerando soluções científicas em forma de artigo científico que passa a ser domínio público”, reclama.


O que tem acontecido, ainda de acordo com Ricardo, é que esses artigos normalmente apresentam uma ferramenta para a solução de um problema. Estando em domínio público, as empresas estrangeiras acabam desenvolvendo o produto que depois é vendido no mercado sem ganho nenhum para a Universidade e para o estado. “A gente quer fazer o contrário, quer subir o grau de integração com as empresas”, explica o pesquisador. A questão é que, em geral, é o governo, por meio dos órgãos de fomento, que financia a grande maioria dessas pesquisas no Brasil, mas os pesquisadores da UFRN querem mostrar aos empresários o quanto eles podem ganhar sendo também financiadores científicos. Nesse esquadro, a probabilidade de ganho e resultado é bem maior para o privado e o público.

Na segunda-feira, 10 de abril, uma equipe da área de renováveis e transferência energética da Petrobras vai visitar os laboratórios do grupo na UFRN com a intenção de ver exatamente o que existe de solução pronta ou encaminhada a fim de, a partir daí, desenvolver uma cooperação. “A expectativa é de que se consiga induzir detalhes que tenham a ver com esse tipo de indústria para que se comece a gerar soluções que possam, de fato, ser aproveitadas no meio industrial e que, com esse tipo de ação, seja possível atrair as multinacionais que trabalham no setor para que venham colaborar conosco e que a gente consiga integrar-se a elas, passando a fazer parte da cadeia produtiva”, resumiu Ricardo Lúcio.

Entre os projetos que podem ser apresentados à estatal nesse encontro estão a captura de CO²; o hidrogênio azul; e as células fotovoltaicas em filme fino, que podem transformar janelas de edificações em placas solares. Também estão na pauta pesquisas com células de combustíveis para mobilidade; sistema de redução de intermitências na rede elétrica e uma pesquisa que transforma água servida de esgoto em hidrogênio, capaz de gerar retorno de água limpa para a natureza e subprodutos que podem ser aproveitados na agricultura.

Foto 1: Paiva Rebouças – Agecom/UFRN / Foto 2: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN/ Foto 3: EDP

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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