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25 de Agosto de 2022

Região do Seridó ganha associação de produtores de queijos artesanais

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A produção de queijo de manteiga é um dos destaques da economia da região Seridó, no Rio Grande do Norte, que já é reconhecida nacionalmente pelos seus bordados. Iguaria de tradição secular, o queijo de manteiga também é apreciado em todo o país e integra um dos pilares para a região se posicionar como a segunda maior bacia leiteira do Rio Grande do Norte. Agora, os queijeiros locais buscam estratégias para valorização deste produto artesanal, como a obtenção do selo de Indicação Geográfica (IG). O primeiro passo foi dado nesta quarta-feira (24), com a criação da Associação dos Produtores de Queijo do Seridó (Amaqueijo).

A entidade já começa com 17 produtores associados, cuja adesão ocorreu na assembleia de formação, que fez parte da programação do 1º Seminário sobre Indicações Geográficas e Marcas Coletivas. Realizado em Caicó até amanhã (25), o evento é promovido pelo Sebrae no Rio Grande do Norte e instituições parceiras. O seminário está sendo realizado no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caicó.

“Além de todo o processo que está sendo feito de certificação junto aos órgãos sanitários, esse é um passo é fundamental para que os produtores possam também pleitear uma IG; é preciso que exista uma instituição representativa de um segmento específico que conduza o projeto e levar ao INPI”, destacou gerente da Agência Sebrae no Seridó Ocidental, Pedro Medeiros.

O seminário contou com a presença de representantes de vários órgãos, como a Agência de Desenvolvimento Sustentável do Seridó (Adese), o Centro de Tecnologia do Queijo do IFRN – Campus Currais Novos, Banco do Nordeste, Emater, Idiarn, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ministério do Desenvolvimento Regional, Senar, Ufersa e UFRN.


“O seminário é uma oportunidade para avaliar o que já aconteceu e definir estratégias para que o Seridó se torne uma referência de queijo de qualidade para o mundo”, diz o gerente. Segundo Pedro Medeiros, o trabalho desenvolvido na Indicação Geográfica dos bordados trouxe embasamento e serve de exemplo para que outras cadeias produtivas da região também tenham a possibilidade de buscar esse reconhecimento de Indicação Geográfica ou Marca Coletiva.

A programação do seminário foi estruturada em conteúdos voltados para o segmento de laticínios e derivados do leite. Uma das palestras foi proferida pela professora Dra. Andréia de Alcântara, coordenadora de Pesquisa e Inovação no IFSP, Campus de Birigui-SP, que abordou sobre a força do associativismo e tratou da possibilidade de criação de um Fórum Estadual de Indicação Geográfica e Marca Coletiva para o estado do RN. “É importante ter esse espaço coletivo com produtores e organismos de apoio do estado de modo a fortalecer todas as indicações geográficas possíveis no RN”, destacou a pesquisadora do IFSP,

Ela ressaltou que outros estados já trabalham firmemente a favor desse tipo de propriedade intelectual (indicações geográficas e marcas coletivas). Andréia Alcantara destacou a importância do associativismo para representar os anseios dos produtores locais junto ao reconhecimento de Indicação Geográfica. “É necessário que essa entidade coletiva seja respeitada, valorizada, não esquecendo que o ator principal de toda essa cadeia são os produtores”, reforçou.

O gestor de projetos do Sebrae-RN, Acácio Brito, também foi palestrante do seminário e falou sobre o Programa de Apoio ao Queijo Artesanal Potiguar para fortalecer as ações do segmento que contribui para o desenvolvimento rural do Seridó.

“Esse é um marco para a história do queijo artesanal potiguar da região do Seridó. A partir de hoje, teremos um setor mais articulado e mais forte, que vai mostrar para o Nordeste a força da produção artesanal de queijos”, celebrou Acácio Brito. Em ações recentes do Governo do Estado, Sebrae e as cooperativas de produtores locais – Capesa e Coafs – foram recuperadas 39 queijeiras, em 16 municípios, o que impulsionará mais ainda a cadeia produtiva do queijo.

O exemplo do Queijo da Canastra

A palestra de abertura do Seminário trouxe uma troca de experiência com a região da Canastra (Minas Gerais), com a participação de Higor Freitas, gerente executivo da Associação dos Produtores de Queijo Canastra – APROCAN. O palestrante destacou a trajetória dos produtores da Canastra que, em pouco mais de 20 anos, consolidaram o queijo artesanal mineiro como um dos melhores do mundo.

A história da produção de queijo na Canastra remonta o final do século XVIII e início do século XIX, com uma produção predominantemente de subsistência e comércio incipiente através de tropeiros. Com o início da circulação de veículos, os queijos passaram ser comercializados mais rápido e passaram a maturar menos, o que fez com que a região perdesse a tradição de maturar o queijo.

O palestrante trouxe uma linha cronológica sobre como os produtores da Canastra passaram a atuar para ter seus queijos com origem e qualidade certificados. Em 2005 os queijeiros passaram a apostar no associativismo e os produtores fundaram a APROCAN. Já em 2008, seguindo nesse propósito de proteção, o produto da Canastra ganha tombamento pelo IPHAN e, em 2012, conquista da indicação de procedência do INPI.

Higor Freitas destacou a importância de parcerias com o Sebrae e instituições de ensino superior como UFMG, UFLA, USP e Institutos Federais, principalmente para fomentar pesquisas e promover cursos de qualificação. Em 2014, a Associação lança uma marca coletiva, buscando o reposicionamento de mercado a partir da consolidação de queijos diferenciados que seguem um padrão.

A conquista das primeiras premiações passa a atrair a atenção da grande mídia para a região da Canastra fomentando também o turismo. O Observatório do Turismo de Minas Gerais atesta que a quantidade de visitas ao Parque Nacional da Canastra pulou de 35.000 visitas (2011) para 103.497 visitas (2018). “Pesquisadores consideram que o aumento do fluxo de turistas na região deve-se aos prêmios internacionais conquistados pelo Queijo da Canastra e pelo fato de os produtores rurais terem se preparado para receber as pessoas”, destaca o palestrante.

Instrumento de valorização e marketing

Os produtores da Canastra iniciaram a utilização do Selo de Indicação de Procedência em 2019 e a busca pela proteção do produto fez a Associação implantar em 2020 um laboratório próprio para atender os produtores associados. E para difundir a cultura da produção artesanal para as novas gerações, as escolas da região passaram a incluir o queijo nas disciplinas escolares.

Em sua palestra, Higor Freitas mostrou aos queijeiros do Seridó o quanto os produtores da Canastra aumentaram seu faturamento a partir da diferenciação e valorização do produto e da valorização do produtor. Os produtores passaram de uma produção irregular de 20 queijos/dia, com faturamento anual de R$ 146 mil, para uma produção regular de 25 queijos/dia, com valor agregado e faturamento médio anual superior a R$ 638 mil reais cada. “Com 70 associados, são gerados em média 290 empregos diretos a partir do queijo”, explicou o palestrante.

Os produtores artesanais seguem tendo cuidado com a usurpação da marca e criaram uma etiqueta de caseína, que grava o próprio queijo com a identificação do produtor e do lote e dá garantia de rastreabilidade. O consumidor, pela etiqueta, também pode acessar o site e conhecer a história do produto e seu produtor. “Não adianta só dizer para o consumidor que é da Canastra. Tem que provar”, destaca Higor Freitas.

A palestra finalizou ressaltando os benefícios de ser associado, como exemplo, compras coletivas de materiais para uso nas fazendas e para comercialização; participação de produtores em eventos nacionais; cursos e capacitações; acompanhamento técnico para manter ou melhorar a qualidade do produto; pesquisas científicas sobre o queijo artesanal; entre outras atuações da associação. A força do associativismo fez surgir na Canastra a Associação Mineira de Queijo Artesanal (Amiqueijo) e o grupo também participou da fundação da Associação Brasileira de Indicação Geográfica – ABRIG. Esse ano o queijo da Canastra ganhou o reconhecimento do Taste Atlas, como melhor queijo do mundo por votação popular.

Foto: Wendell Silva – (Referência Comunicação)

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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