16 de Outubro de 2023
“Nunca devemos desistir”, diz potiguar que levou RN a pódio em competição nacional de energia do SENAI
[0] Comentários | Deixe seu comentário.Os últimos nove meses do ano terminaram com lágrimas, sentimento de “virada” e também de “superação” para Marcos Aurélio Lima Bezerra da Silva, potiguar de 19 anos.
Após mergulhar em um universo de estudos e práticas absolutamente novo, com incontáveis horas de treinamento e uma verdadeira corrida contra o tempo, na preparação, ele levou o Nordeste do Brasil e o Rio Grande do Norte ao pódio nacional da WorldSkills – seletiva do SENAI para a maior competição de educação profissional do mundo.
“O sentimento foi de alívio e extrema felicidade”, descreveu ele, após desembarcar de volta ao estado com a medalha de bronze no peito e um aprendizado na ponta da língua: “Nós nunca devemos desistir”.
Marcos foi anunciado entre os melhores competidores do país na estreia da modalidade Energias Renováveis, no torneio.
Passou da última para a terceira posição após recuperar o fôlego que havia estremecido no início das provas e, ao ouvir o resultado, com a bandeira do RN e imagens da família no colo, não segurou a emoção. “Foi indescritível”.
A competição foi realizada no Rio de Janeiro e teve o estado de São Paulo classificado para representar o Brasil na WorldSkills, em Lyon, na França. O Paraná conquistou a segunda posição e os estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Alagoas ocuparam, nesta ordem, o quarto, o quinto e o sexto lugar no rol de participantes.
Dedicação
Marcos é formado pelo SENAI-RN no curso técnico em Programação de Jogos Digitais. Ele fez ensino médio como bolsista no SESI e, atualmente, dá aulas de robótica educacional em uma escola privada no estado.
Sem experiência no setor de energia ou estudos prévios sobre a atividade, acabou escolhido para os desafios da etapa nacional da WorldSkills, como representante do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGAS-ER) do SENAI do Rio Grande do Norte, por apresentar uma característica avaliada como chave: “A dedicação”, frisa um dos instrutores de educação e tecnologias do Centro que o acompanharam na preparação, Tiago Castro.
“Nós começamos o treinamento dele do zero na parte de eletricidade, em meados de fevereiro deste ano. Partimos do básico, do básico, do básico dos conceitos. A partir daí fomos avançando na teoria, com equipamentos de medição que ele nunca havia nem visto por fotos e também com a preparação prática”, acrescenta.
Técnico em Automação, engenheiro eletricista, especialista em Engenharia Elétrica, em Engenharia de Controle e Automação e em Neurociências – além de ex-competidor – Castro foi o primeiro abraço que Marcos recebeu ao saber que havia vencido.
Eles estavam sentados lado a lado no local da premiação. “Saber que estava no pódio foi uma surpresa que me emocionou bastante”, disse o aluno.
“Embora incomum, o bronze teve verdadeiramente sabor de ouro”, segundo descreveu o instrutor, nesta semana, em uma rede social em que comentou o resultado. “(…) Chegamos a ocupar o último lugar. No entanto, graças à força e perseverança do aluno, realizamos bem os últimos módulos e conseguimos chegar ao pódio. Isso é o que a competição representa!”.
Provas
As provas foram realizadas entre os dias 2 e 6 de outubro e incluíram a elaboração de um projeto de implantação de sistema fotovoltaico, a montagem, instalação elétrica e comissionamento dos módulos de geração de energia, além do uso de um drone para registro de imagens e identificação de possíveis falhas em outra instalação existente no desafio.
A competição incluiu, ainda, a montagem e as conexões necessárias ao funcionamento de um aerogerador de pequeno porte. As tarefas tinham duração entre 2 e 8 horas, em um contexto com disputas travadas também por competidores e competidoras de outras modalidades, a exemplo de Controle Industrial, Mecânica Industrial, Desenho Mecânico CAD, Computação em Nuvem e Construção Digital BIM.
“O CTGAS-ER é uma unidade reconhecida nacionalmente pelas entregas que faz em educação profissional para a indústria de energia. O Centro participa da transição energética no Brasil e vários estados do país também atuam e dão suporte com capacitação profissional pensada para esse momento, então era natural que a modalidade da competição nessa área surgisse”, diz a diretora do CTGAS-ER, Amora Vieira, afirmando que, para a instituição, estar representada no pódio reforça que a qualificação profissional que oferece está à altura do que o mercado necessita.
Ela também enxerga ganhos para o aluno. “Esse é um processo em que se está naturalmente sob pressão para a execução de atividades e em que existem variáveis não só técnicas, mas também do lado emocional envolvidas. Então pôr os conhecimentos em prática nesse contexto, entender como funciona uma competição e como pode funcionar o mercado lá fora, ver que é capaz de entregar resultados e de melhorar o processo de condução exigido impulsiona e traz lições que ajudam a enriquecer o próprio desenvolvimento”, analisa.
Rodrigo Mello, diretor do SENAI-RN e do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER), avalia as seletivas – no passado conhecidas como Olimpíadas do Conhecimento – como marcos para a vida e a carreira de quem participa.
“A rede SENAI oferece aos competidores oportunidades de mostrar a competência técnica que adquirem e outras que também pesam muito e são desenvolvidas dentro e fora das salas de aula da rede, como comportamento e autocontrole”, observa o executivo.
“Os competidores são tipicamente jovens desafiados a fazer a melhor entrega possível em um ambiente de forte concorrência e termos mais um representante do Rio Grande do Norte com a medalha no peito mostra que continuamos no caminho certo no trabalho que temos construído”, acrescenta, em referência também a conquistas anteriores, com prêmios nacionais e internacionais, além de outros destaques alcançados por competidores e competidoras da instituição em áreas como solda, caldeiraria, refrigeração, instalações elétricas e vestuário.
A seguir, confira entrevista com Marcos Aurélio Lima Bezerra da Silva, sobre o desempenho na competição de Energias Renováveis e os desafios que enfrentou até a vitória.
ENTREVISTA
“Fui treinado pelos melhores profissionais e hoje me sinto pronto para novos desafios do mercado”
Marcos, o que essa competição representou para você?
Uma oportunidade de me superar. Em uma área totalmente nova, em uma competição de abrangência global, poder competir pelo SENAI-RN foi um prazer enorme.
E o que você sentiu quando soube que estava no pódio?
Alívio e extrema felicidade. Durante a competição, passamos por dificuldades que pareciam tirar o RN do pódio, mas consegui reverter essa situação nos últimos dias. Não estava esperando ser chamado, justamente por conta desses acontecimentos, então foi uma grata surpresa que me emocionou bastante.
O que te levou a participar da competição em uma área tão diferente da sua?
O interesse em novos desafios e a oportunidade de crescimento. Sempre gostei muito de me desafiar e quando Tiago me convidou, ainda pensei muito, mas acabei aceitando porque me parecia uma chance única.
Como você se preparou na prática? O que essa preparação exigiu?
A preparação exigiu de mim muito mais do que estava acostumado. Nós treinávamos em dois turnos. Um treinamento prático sempre muito intenso, focando em fazer tudo no menor tempo possível, mas com máxima excelência. Eram cerca de 3 a 5 simulados por semana, em um ritmo muito intenso, cada um com cerca de 4 a 5 horas de duração. Tive que abdicar de muita coisa, tal como tempo com minha família, meus amigos, minha namorada. Tive que deixar alguns momentos de lazer um pouco de lado, como jogar futebol que sempre foi minha paixão. Na reta final, acabei ficando no SENAI de domingo a domingo, para poder fazer o máximo de treinos possíveis. Além da parte prática, tinha que estudar por fora as questões teóricas, em especial do módulo de projeto no software PVSol.
O que achou mais difícil e qual foi o maior desafio nesse processo?
O mais difícil foi ficar tanto tempo longe da minha família e o maior desafio foi conseguir chegar em um nível de competitividade sem nunca ter visto nada da área antes. Sofri bastante com a intensidade dos treinamentos, pois eu sabia que tinha que correr um pouco mais para compensar esse meu déficit de conhecimento na área. O psicológico também foi um dos grandes desafios. Principalmente na reta final, quando começam as expectativas, a ansiedade batendo e você se cobrando para chegar na melhor forma.
Você diria que esse esforço valeu a pena?
Com certeza! Foi uma experiência única e uma oportunidade da qual não me arrependo. Adquiri muito mais conhecimento do que poderia imaginar em tão pouco tempo, fui treinado pelos melhores profissionais e hoje me sinto pronto para novos desafios do mercado. Ser o competidor do RN, no primeiro ano da modalidade de energias renováveis, e fazer uma competição de tantos altos e baixos, mas com o final que teve, foi uma emoção indescritível.
Você pensa em continuar trilhando caminho na área de energias renováveis?
Sim, acabei me encontrando na área e acredito que é um mercado em crescimento.
Você pretende buscar alguma área específica de qualificação e alguma ocupação específica no mercado?
Pretendo me qualificar na área da eletrotécnica, mas sem limitar as possibilidades de novas áreas, novas atuações. Gosto muito de trabalhar com a robótica, gosto muito de ensinar e dar oportunidades que um dia me foram dadas. Então creio que meu objetivo é educar como profissional e poder contribuir na vida de outros jovens.
Você pensou em desistir em algum momento da competição?
Sim, a competição nos leva a um nível de cansaço muito alto, tanto físico quanto mental. Mas sempre me motivei com o objetivo de mudar a vida da minha família, de orgulhar a todos e poder deixar meu nome escrito. Lembrar de onde eu vim, saber onde estou hoje e aonde consigo chegar, sempre me motiva bastante. Além disso, sempre tive um apoio muito grande dos professores do SENAI. Sempre me colocaram numa posição na qual eu sentia que poderia ir além.
De onde você veio?
Sempre estudei em escolas públicas, nas quais as oportunidades eram menores e ainda assim fiz o melhor para me destacar. Hoje em dia sou muito grato por tudo isso, pois me formei e me motivei a transformar vidas também. Mas eu e minha família já passamos por muitas dificuldades, já tivemos noites de não sabermos o que jantar. Porém, sempre estivemos juntos e nossa mãe nunca deixou que nada faltasse. Lutei muito para poder ajudar nas batalhas de casa e fico muito feliz por estar crescendo e vendo as portas se abrirem para que eu possa ajudar ainda mais. Sou ex-aluno do SESI/SENAI, fiz o meu ensino médio como bolsista. E lembro que precisei da ajuda de um antigo professor para poder arcar com os custos do material. Por isso, serei sempre grato por todos me levantaram e lutarei sempre para fazer valer esses esforços.
Que aprendizado a trajetória de competidor deixa para você?
Especialmente que nunca devemos desistir e que sempre podemos nos superar. Poderia ter desistido da competição no primeiro dia, quando não consegui concluir a primeira prova, mas retornei para os outros dias com mais gana de vencer e isso me fez subir no pódio. Competir é incrível, traz um sentimento de emoção, de dever cumprido, sensação de estar sempre precisando melhorar. Então fica o aprendizado de que podemos nos superar e que teremos sempre uma nova chance.