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02 de Março de 2020

Mulheres chefiam 29,4% dos lares no Rio Grande do Norte

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Deu na Tribuna do Norte:

De segunda à sexta, Lúcia Maria Dantas sai de casa às 6h30 para uma maratona: primeiro, vai ao seu restaurante no prédio do Tribunal da Contas do Estado para servir o café da manhã, depois corre para o segundo a 1,6 quilômetros de distância para servir o almoço e, no fim do dia, ainda retorna ao TCE para o fechamento e preparação de sobremesa. Às 19h30, está de volta em casa, mas não para: faz a janta, arruma a casa e põe a roupa para lavar. Aí sim é hora para descansar. Foi entre essa rotina – que aqui e acolá tem alguma mudança – que cuidou de dois filhos praticamente sozinha. Lúcia é mãe, pai, amiga, responsável pela casa e dona de restaurante.

A potiguar é parte de um universo de 530 mil mulheres do Rio Grande do Norte que são responsáveis pelo lar, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2019. Esse é um quadro que cresce em todo estado há sete anos. Em 2012, eram 345 mil mulheres. O aumento no período foi de 53,6%. A responsabilidade do lar alcança hoje uma a cada três mulheres do Rio Grande do Norte (29,4%), um aumento de quase dez pontos percentuais em relação a 2012 (20,4%).

O responsável por domicílio é determinado a partir das entrevistas do IBGE feita nos lares brasileiros. Segundo Flávio Queiroz, supervisor de disseminação de informações do instituto, as respostas indicam quem é a pessoa de referência na casa e isso não necessariamente considera questões financeiras, por exemplo. “A gente vê nos últimos anos uma perda de emprego formal para os homens. Isso fez com que as mulheres tivessem o protagonismo colocado em mais evidência, por isso pode haver uma relação positiva”, afirma Queiroz.



Na história de 60 anos de Lúcia Dantas, a responsabilidade em casa sempre existiu. Quando se separou do marido, a filha mais velha tinha 8 anos e o mais novo, 2. O pai das crianças era presente, mas ela era a responsável por educá-los, levá-los à escola e ao hospital nas horas necessárias e a dar todo sustento. O restaurante da Lúcia ainda era um churrasquinho na frente da casa onde ela morava e pouco a pouco ela tentava prosperar.

Hoje, a filha mais velha de Lúcia, Ana Paula, tem 26 anos e tem graduação em Ciências Contábeis. O mais novo, Antônio, tem 20 anos e está na faculdade de administração.  “Antônio cresceu aqui dentro do restaurante. Eu colocava ele num colchãozinho e ele ficava aqui. Mas criei os dois, sempre fui mãe, pai, tudo”, explica a matriarca. A jornada de trabalho e em casa é realidade praticamente padrão entre as mulheres brasileiras, mas ainda maior no Rio Grande do Norte. Ainda segundo as estatísticas do IBGE, 89,4% mulheres do Estado realizam tarefas domésticas, contra 61% dos homens. A diferença é de 28,4%. No Distrito Federal, por exemplo, essa diferença é de 6,6%.

A cientista social e integrante do Centro Feminista 8 de março, Renata Castro, argumenta que isso é uma lógica desigual existente na realidade brasileira. “[A dupla jornada] faz com que as mulheres gerem rendas [no trabalho] e se tornem mais facilmente responsáveis por domicílio, mas não significa necessariamente que a lógica do trabalho doméstico está se tornando mais igualitária.”

Lúcia aguenta toda essa jornada “ligada nos 220 volts”, como ela mesmo afirma, sendo respaldada por funcionárias do seu restaurante. Foi com esse ritmo que ela conseguiu criar os filhos e fazer prosperar o seu negócio, enfrentando altos e baixos. Localizado no bairro do Tirol, próximo ao antigo hospital Papi, o restaurante teve uma queda de quase 90% da freguesia quando o hospital fechou em 2017. “Mas nunca desisti. Morrer de fome eu não posso, nem vou ser sustentada por ninguém”, explica.

Há três anos e meio, Lúcia conseguiu ganhar a licitação do Tribunal de Contas do Estado e passou a prestar o serviço de alimentação para o local. Pouco tempo depois, foi chamada por uma faculdade privada para prestar serviço somente aos sábados. Com os filhos já crescidos, isso fica mais fácil. Ana Paula ajuda no TCE e Antônio no restaurante do Tirol. No ritmo dos três, resta o domingo para descansar. É o dia divino para Lúcia, católica fervorosa. “Esse é o dia que a gente senta para almoçar todos juntos. Ninguém mexe no celular. É o momento que falamos de como estão as coisas, se está tudo bem. Os meus filhos são tudo para mim e é a hora que eu tenho para renovar as energias e iniciar uma semana novamente ligada no 220 volts”, termina Lúcia.

Foto: Alex Régis / Fonte disponível em: http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/mulheres-chefiam-29-4-dos-lares-no-rio-grande-do-norte/473421

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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