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31 de Maio de 2024

Encontro das Mulheres na Energia Solar destaca desigualdades no mercado e caminhos para mudança

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“Por que a gente precisa falar tanto nas questões de equidade de gênero? Por que a gente precisa estar num Congresso conversando sobre isso?”, perguntou à plateia repleta de mulheres – intercaladas com alguns homens em Natal – a engenheira eletricista Annelys Schetinger, decifrando rapidamente as questões.

“Uma pesquisa de 2023, com mais de 4 mil empresas integradoras brasileiras, mostra que de 2020 a 2022, a participação de mulheres (nessas companhias) era de apenas 24%. Das empresas analisadas, 6% não possuem mulheres em nenhum dos setores”, disse.

O assunto foi tema de discussão no Encontro das Mulheres na Energia Solar, realizado na capital como parte da programação do CBENS – o maior Congresso científico e tecnológico do setor de energia solar no Brasil.

O evento começou na última segunda-feira (27) e será encerrado nesta quinta (30) no Praiamar Natal & Conventions, com realização da ABENS (Associação Brasileira de Energia Solar) e coordenação do Instituto SENAI de Inovação em Energias Renováveis (ISI-ER).

Apenas 1% das mulheres trabalha com instalação de sistemas fotovoltaicos, os sistemas que geram energia solar, segundo a engenheira e integrante da Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar (Mesol), promotora do Encontro.

“De acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis, 32% de mulheres trabalham com energias renováveis no mundo todo. E se a gente olhar o cenário do Brasil a participação de gênero está menor do que a média mundial. Ela foi evoluindo, evoluindo e quando a gente achou que ia aumentar, começa a cair”, alertou ainda.

O Encontro discutiu a participação feminina, barreiras que as profissionais enfrentam, inclusive com a maternidade, assim como boas práticas e políticas de apoio que podem ajudar a mudar esse cenário.

“É preciso discutir licença paternidade. São cinco dias que o pai ganha. Mas o que será que um filho de 5 dias faz? será que ele já está andando? Falando? Lendo? E aquela mãe que acabou de ter essa criança, com 5 dias já tem que dar conta de tudo?”, questionou.

“Então vamos discutir também a licença paternidade; porque o pai quando é pai, a mãe consegue ser uma mãe melhor”.

A pauta do evento trouxe recomendações para a construção de um setor solar mais justo e igualitário para todas as pessoas, palestra e a roda de conversa “Quebrando barreiras, Construindo Pontes: Mulheres na Energia Solar”.

Participaram como debatedoras a pesquisadora líder do Laboratório de Energia Solar do ISI-ER e coordenadora geral do CBENS, Samira Azevedo, a coordenadora e professora do Mestrado em Ensino de Física e professora no curso de Engenharia de Gestão de Energia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Aline Pan, a professora da PUC-RS, Izete Zanesco, a professora e pesquisadora mexicana Silvana Ovaitt, do National Renewable Energy Laboratory (NREL), dos Estados Unidos, e a aluna de doutorado do Programa de Pós-graduação de Engenharia Civil da UFSC, Amanda Mendes.

Oportunidades

As pesquisadoras ressaltaram que, para ingressar e avançar no mercado, é preciso buscar as oportunidades profissionais e não esperar que elas apareçam naturalmente.

“Eu tive que buscar todas as oportunidades. Eu decidi que queria ser professora universitária e pensei ‘para isso o que preciso fazer’. Então fui atrás da formação e enquanto ia me formando ia vendo as oportunidades. Eu recebi muitos não, mas tive uma carreira que olho para trás e me sinto feliz com o que fiz”, disse Izete.

Amanda também escolheu ser professora e pesquisadora. Ela alcançou o objetivo de integrar um Centro de Pesquisas na área de energia solar, ao fazer contatos, via e-mail e aplicativos de mensagens com pessoas que poderiam lhe ajudar a abrir novos caminhos.

“Os WhatsApps que mandei em 2018 tiveram muitos frutos e os e-mails também. Então, não tenham medo de falar com as pessoas e de aproveitar o ambiente de eventos para abrir suas próprias portas, para conversar com aquela professora ou professor que ainda não sabem quem é você”, frisou ela.

Com uma experiência mais analógica, que guarda, porém, semelhanças com a da doutoranda, Samira Azevedo contou que escreveu cartas para conseguir bolsa de estudo em uma escola que lhe permitisse buscar outros horizontes.

“Eu tinha um currículo bom, mas morava em uma cidade muito pequena da Paraíba e lá só tinha até o ensino médio”, diz. “A bolsa que consegui me fez estudar no melhor cursinho e passar na universidade”.

Meteorologista, com mestrado e doutorado na área, a pesquisadora compartilha que “é preciso ir atrás e que não adianta ficar esperando a coisa acontecer”. “As coisas acontecem para quem vai atrás, para quem não tem medo do não. A gente se prepara para isso, estudando, treinando, entendendo o que a gente quer de verdade”, frisou Samira.

Ela chamou a atenção para bolsas disponíveis e programas de estágio que podem servir de porta de entrada para uma carreira de sucesso. “A gente tem que ficar atenta a essas oportunidades também. Claro, às vezes não encontramos os ‘sims’ de cara, tem os desafios, mas é preciso ir em frente”.

Aline Pan, que atuou como moderadora do debate, frisou que “nós, como mulheres, precisamos ser muito resilientes para continuar”. “Essa resiliência”, disse ela, “é uma luta constante com a destruição”.

“Porque a gente vive numa sociedade onde ainda tem muitos vieses implícitos e que a gente nem sente, mas que estão acontecendo a todo instante. E é uma destruição para a mulher. Ela tem que fazer muito mais força, ela muitas vezes não resiste porque não está num lugar de privilégio”.

Foto: Ozéas Queiroz

Professora e pesquisadora mexicana destaca importância da participação feminina

A professora e pesquisadora mexicana Silvana Ovaitt, do National Renewable Energy Laboratory (NREL), dos Estados Unidos, destacou que “é muito importante que as mulheres sejam parte da conversa e da tomada de decisão”.

A frase foi a introdução que usou na palestra “Da inspiração à inovação: Como uma pesquisadora do NREL está moldando um amanhã sustentável”, também parte do Encontro.

Especialista em tecnologia fotovoltaica bifacial, doutora em engenharia elétrica e de computadores, ela centrou a apresentação em estratégias que vem adotando no caminho e que podem inspirar outras mulheres para prosperar e avançar na ciência. Uma delas, afirma, é combater a “síndrome do impostor”.

A pesquisadora descreveu a “condição” como “crença inconsciente de que não somos tão inteligentes, capazes, talentosas ou qualificadas quanto os outros pensam que somos”.

O sucesso, nesses casos, é atribuído a questões como sorte, timing, personalidade e conexões. É preciso identificar o comportamento e coibi-lo, segundo Silvana.

Ser uma boa comunicadora da ciência também foi apontado como imprescindível, e isso inclui desde “conectar a mensagem com o que é importante para o seu público”, passando pelo formato das apresentações até escrever artigos em linguagem clara e acessível.

MUDANÇA POSSÍVEL

Exemplos de boas práticas citadas no Encontro para um mercado com mais igualdade e participação feminina

Em eventos

  • Priorizar a equidade de gênero na comissão organizadora de eventos;
  • Não chamar apenas homens para falar em mesas redondas e palestras
  • Garantir que a mulher tenha espaço para levar o filho e amamentar
  • Promover o debate, com a participação de mulheres, mas também de homens: “A gente precisa entender que não é só a mulher que precisa falar sobre equidade de gênero, mas o homem também precisa entender sobre isso e a gente precisa lutar essa luta juntos”, disse Annelys Schetinger, da Rede Mesol.

Nas empresas

  • Linguagem inclusiva: Na hora de contratar, usar uma linguagem que inclua todas as pessoas. Em vez de falar “engenheiro”, por exemplo, optar por “profissional da engenharia”;
  • Igualdade na análise: Nas entrevistas, fazer as mesmas perguntas para homens e mulheres. Contratar com base em critérios como análise do currículo e na experiência;
  • Estímulo à liderança: Apenas 3% dos cargos no mercado são ocupados atualmente por mulheres. “É preciso descobrir o porquê disso para mudar e trazer mais cursos de liderança voltados para mulheres”, disse Annelys.
  • Combater o assédio no ambiente de trabalho
  • Oferta de promoções e remuneração baseados em critérios técnicos: Salários iguais para o mesmo cargo.

SAIBA MAIS – Cidade-sede do CBENS

A escolha de Natal como sede do CBENS foi defendida pelo ISI-ER, em 2022, junto à ABENS. O Instituto é sediado na capital e é a principal referência do SENAI no Brasil em pesquisa, desenvolvimento e inovação em energia eólica, solar, sustentabilidade e novas tecnologias, como o hidrogênio verde.

Entre os argumentos que a instituição apresentou para conquistar a aprovação da cidade-sede estão as atividades que desenvolve na maior rede de institutos privados do Brasil para PD&I da indústria – a rede de Institutos SENAI de Inovação – o alinhamento dessa atuação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, potenciais locais para visitas técnicas durante o evento, infraestrutura hoteleira e turística.

O CBENS É realizado com coordenação do ISI-ER e apoio da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), do SENAI, da Prefeitura de Natal, do Polo SEBRAE de Energias Renováveis, do CNPQ, do governo do estado, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec), do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Norte (CREA-RN), da UFRN, da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e do Centro de Estratégias em Recursos Naturais & Energia (Cerne). São patrocinadores a Petrobras, o governo federal, o Banco do Nordeste, a Campbell Scientific, a dualBASE e a RoMiotto Instrumentos de Medição.

 

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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