30 de Março de 2022
Dissertação sobre gênero e acesso à água no seridó é publicada em livro
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O efeito da crise hídrica na região seridoense afeta mais os domicílios chefiados por mulheres. Esse é um dos resultados presentes na dissertação Diferenciais de Gênero ao Acesso à Água na Zona Urbana do Seridó Potiguar, RN, da egressa do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN) Kaline Stephania Costa Lopes, publicada no livro Água e Gênero – perspectivas e experiências.
A obra em formato de e-book, online e gratuita, organizada pelos professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fernanda Matos e Alexandre Carrieri, aborda as relações entre a desigualdade de gênero, o acesso aos direitos basilares, o contexto econômico e a gestão das águas no país. Além disso, o livro é dividido em capítulos, os quais debatem as perspectivas do bem-estar e da qualidade de vida das mulheres e a ligação com os recursos hídricos.
De acordo com as análises apresentadas na publicação, as mulheres assumem a maioria das tarefas dependentes do uso da água, principalmente no âmbito doméstico, o que resulta em um acúmulo de funções diárias. Isso é apenas uma das consequências dos eventos climáticos que atingem a população em vulnerabilidade social e econômica da região do Seridó do RN, que abrange municípios como Currais Novos, Parelhas e Acari.
Embora a Terra seja considerada o “Planeta Água”, com cerca de 70% da superfície completamente coberta pelo recurso hídrico, segundo o estudo Diferenciais de Gênero ao Acesso à Água na Zona Urbana do Seridó Potiguar, RN, a falta de infraestrutura para distribuição e acesso à água potável não acontece para todos, em especial para os domicílios chefiados por mulheres e os domicílios monoparentais femininos (a mulher sozinha assume a responsabilidade parental do filho).
Para a egressa Kaline, a região do Seridó frequentemente é marcada por períodos de estiagem, por isso o planejamento de políticas públicas são importantes para minimizar os efeitos da seca na vida das pessoas, essencialmente nas das mulheres. Um projeto conhecido por realizar a democratização do abastecimento da água no semiárido brasileiro é o Um Milhão de Cisternas, criado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além disso, as áreas acometidas pela seca, em decorrência de fatores climáticos, estão sujeitas a maiores condições de desigualdade social, sobretudo por conta da falta de oportunidades no mercado de trabalho. Para as mulheres, ainda conforme a dissertação, a realidade torna-se mais desproporcional devido aos cuidados com os filhos, a gerência da água em seus lares e a participação efetiva na composição da renda familiar.
“Quando ela (a mulher) precisa assumir sozinha o sustento dos filhos, ela assume também a gestão da água. Na seca, o trabalho doméstico dessas mulheres aumenta, pois há a necessidade de ir em busca de água em outros lugares, além do trabalho que se tem em armazenar a água”, fala a egressa. Em conformidade com Kaline, a seca influencia e impacta diretamente as ocupações que as mulheres possam assumir fora e dentro da sua casa.
Com a publicação em nível nacional, Kaline Stephania comemora: “para além da colaboração científica e um retorno à sociedade, ter a dissertação publicada em um livro me remete ao sentimento de reconhecimento e gratidão”. A partir da sua pesquisa, a mestranda acredita que pode ter colaborado com a melhoria para os estudos acadêmicos acerca da temática, como também para a expansão da sua experiência enquanto pesquisadora, mostrando as vivências das mulheres seridoenses.
Além da autoria da ex-discente do PPGDem/UFRN, as professoras do programa de pós-graduação em Demografia Luana Myrrha e Silvana Queiroz participaram da coautoria do capítulo. A pesquisa, realizada em 2017, teve a aplicação de questionários nas cidades de Acari, Currais Novos, Ipueira, Parelhas, Cruzeta, Caicó e São José do Sabugi. Os resultados estão presentes no capítulo 12 do livro Água e Gênero – perspectivas e experiências, a partir da página 418.
