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19 de Abril de 2022

[ARTIGO] Educação abraça o metaverso, mas não contempla quem mais necessita dele

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Por Cesar Silva* 

 

Discutir o impacto de mecanismos de realidade virtual na educação brasileira se tornou pauta comum entre profissionais e entusiastas da área e, recentemente, fui convidado a refletir sobre seus benefícios. A aplicação real dessas ações também levanta questionamento, devido a eterna desconfiança sobre o que funciona ou não no Brasil.  A resposta é que há, sim, a presença do chamado metaverso em diversos modelos de educação e capacitação profissional. 

 

Os treinamentos em ambientes de simulação, já existentes para cursos de operadores de máquinas, de veículos de carga e tipos de soldagem em materiais, por exemplo, estão em operação desde o início deste século e asseguram uma primeira etapa de aprendizagem. Uma iniciativa que valoriza os conceitos fundamentais da operação, testando os alunos, para, aí sim, mais preparados, serem submetidos a operações reais, com mais riscos e que incorrem em custos de combustível, materiais e insumos bem caros. 

 

Em outro exemplo, dentro dos cursos de medicina das principais instituições particulares do país, os alunos têm a oportunidade de desenvolver casos clínicos desde os primeiros meses de aulas, atendendo robôs que apresentam sinais vitais que indicam disfunções a serem diagnosticadas pelos estudantes a partir de conceitos desenvolvidos nos seus programas de formação. É a residência virtual, no início dos programas, que traz a prática de maneira antecipada e sem riscos inerentes aos erros em saúde. 

 

Muitos métodos existem há décadas, como já dito, e a necessidade imposta pelo isolamento social e a evolução cada vez mais rápida do universo digital os tornaram mais aprimorados.


Mas um fato que muita gente esquece – ou ignora –, porém, é a dura realidade da grande massa de estudantes, jovens ou não, que não é contemplada por essas necessárias ferramentas. A tecnologia existe e está implantada em bolhas, clusters de estudos especializados, mas, a realidade da escala, de um país com dimensão continental e diverso, é muito distante do metaverso. Nunca o virtual foi tão distante do real. 

 

O impacto negativo dessa diferença de oportunidades pode ser visto diretamente na avaliação da educação pública brasileira como um todo. Após dois anos de pandemia, retornamos a patamares de qualidade escolar bem abaixo de 2019. Temos mais de 55% dos alunos com deficiência em língua portuguesa e 95% com deficiência em matemática. 

 

Na outra ponta, professores com aulas atribuídas faltam constantemente. Por terem que se deslocar de grandes centros para as periferias, preferem se dedicar a outras atividades não relacionadas à educação, deixando turmas de alunos com substitutas sem qualquer qualificação para os conteúdos essenciais. 

 

Não aprendemos quase nada com a necessidade. Se o delivery cresceu e se estabeleceu, o uso de tecnologias para estimular e motivar os alunos em paralelo com o presencial não teve o mesmo efeito. 

 

A realidade virtual expressa pelos gestores públicos de educação – em todas as esferas municipais, estaduais e federal – destoa da realidade verdadeira e sofrida das escolas sem recursos básicos para receber alunos e que possibilitem o aprendizado contínuo e progressivo. 

 

Foram 4 ministros de educação em 3 anos e meio, sem qualquer proposta de política pública consistente para a pasta. Da mesma forma, vimos a maior parte dos estados correr atrás de uma estratégia para manter os alunos ativos durante a pandemia, mas nada se fortaleceu como sistema após a volta às aulas presenciais. 

 

A educação pública vive, sim, o metaverso, mas com um viés patético e ilusório. 

 

*César Silva é especialista em gestão educacional, atual presidente da Fundação FAT 

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Sobre Juliska

Juliska Azevedo é jornalista natural de Natal-RN, com larga experiência em veículos de comunicação e também assessoria de imprensa nos setores público e privado.

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